Não preciso dizer que o Rock in Rio não é mais um festival apenas de rock, você sabe. O Lolapalooza, caracterizado por sua “pegada” alternativa e elogiado desde sempre por críticos do segmento, esse ano foi alvo de todo o tipo de resenhas contrárias (mesmo alcançando o maior público de sua edição brasileira).
Não me cabe dizer se isto é bom ou ruim, mas, o fato é que muitos se perguntam: “Por que tudo isso?” E o mais intrigante: “O que isso tem a ver com a música que eu faço?”
1 – Festivais são reflexo do consumo de música no mundo
Por que o Rock in Rio era essencialmente um festival de rock em suas primeiras edições e hoje não mais? A resposta é simples: A internet nos brindou com a possibilidade de ouvir muito mais do que as rádios e televisões pudessem nos apresentar. Um mar de estilos está atingindo uma nova geração (e a antiga também) e influenciando diretamente em seu comportamento.
Um fã de Foo Fighters pode ser um potencial ouvinte de música eletrônica e acompanhar com respeito, mesmo que de longe, artistas do pop brasileiro. O ouvinte de música tende cada vez mais a se distanciar de rótulos, apesar de se manter ativo em diversos nichos. Aliás, a existência do Palco Sunset (Rock in Rio) observa essa realidade.
O que os grandes festivais fazem é oferecer um cardápio com todas as opções para o gosto do freguês. E claro, quanto mais opções, maior o preço. O consumo de música no mundo é pulverizado, não se pode negar. Trazer isso para um produto que entrega shows era inevitável.
2 – É muito mais do que música
Existe muita música sim. Se é de qualidade ou não, cada público tem sua opinião, mas, o fato é que a pluralidade de estilos certamente incluiu mais pessoas que como dissemos, consomem música de forma diferente por causa da internet. E aqui mora um indicador importante: A internet não apenas mudou o comportamento na hora de se ouvir música, mudou o comportamento de vida.
Quem assiste um vídeo musical no You Tube acaba entregando mais do seu tempo aqueles que despertaram suas emoções. O Spotify recomenda músicas baseadas nas informações que você insere na plataforma. Música hoje se conecta com quem você é.
Desde 2013 o Coachella, tradicional festival de música, apresenta o Despacio, um ambiente apartado, separado para um público bem específico interagir com muita música baseada nas décadas de 70, 80 e 90 em uma roupagem eletrônica. Uma danceteria de nichos que certamente não caberia no grid do festival, mas, atrai muitas outras pessoas a um preço alto, claro.
Com uma infra estrutura potente, o Despacio acabou sendo um dos atrativos mais esperados por um público que dificilmente compraria o ingresso para esse festival. Um salto e tanto para a marca Coachella.
É papel de um negócio que vive de eventos como um festival de música, mapear necessidades, gostos e criar produtos baseados nisso, por mais louco que isso pode parecer pra você.
3 – O que isso tem a ver com você?
Entender a lógica de consumo de um festival plural nos dá o entendimento de como nossa própria música pode atingir as pessoas. É importante que artistas compreendam que o ouvinte da sua música é esse que está consumindo produtos como os grandes festivais. Se não consome fisicamente, acaba se conectando a tudo o que ali é feito.
O “novo fã” é plural. Vai sim amar sua música, mas, certamente navegará por outros estilos e terá mais afeição a artistas que conseguirem promover experiências sensoriais marcantes em seus trabalhos e sua comunicação.
Com tantas opções, esse fã reservará em sua mente poucos espaços cativos. Vai ouvir muitos, porém, terá a preferência por quem conseguir “arrebatar” suas emoções diariamente.
Saber usar a internet é F-U-N-D-A-M-E-N-T-A-L.