Um músico pode aprender a ser mais criativo?

Escrito por Vinicius Soares

A internet está repleta de dicas sobre criatividade para muitas áreas. Basta procurar pelo tema no You Tube e você verá inúmeros vídeos. Mas, a verdade é que, por mais motivador que seja, uma dica sobre criatividade sempre é cercada de um certo ceticismo, afinal, criar é uma atitude muito individual e não existe receita pronta que faça isso acontecer.

Felizmente, a ciência existe para nos ajudar a entender isso. Por mais diferentes e únicos, é possível que nós, músicos, possamos estimular o pensamento criativo e aplicá-lo em nossas carreiras. Isso por si só, faz com que pensemos que de alguma forma, podemos melhorar aquilo que hoje não nos tem dado resultado, uma vez que, em um tempo de tanta abundância  musical, ser um músico criativo faz total diferença.

O que a ciência diz

Gerard Puccio, chefe do laboratório de criatividade da universidade de Búfalo, nos Estados Unidos define uma ideia criativa como um pensamento que combina opções já existentes, nunca antes usadas juntas, para influenciar uma decisão, suprir uma necessidade ou atender uma expectativa.

Ou seja, a criatividade acaba por ser um processo de observação de elementos já existentes, combinados de forma que esse resultado impacte um determinado público. Criar algo absolutamente inexistente está fora do poder humano, Deus já fez isso. Logo, você não depende de um pensamento “extra terrestre” para criar algo novo, precisa sim aprender a desenvolver o chamado processo criativo.

O Processo Criativo

Gerard e sua equipe estudaram o comportamento de músicos, estimulando-os com condições para gerar uma nova ideia. Os resultados mostraram ações que em ordem, geraram novas composições, ideias e outros pensamentos  em um espaço de tempo mediano. Ele mapeou os passos dados e os definiu como: busca pela claridade, concepção, desenvolvimento e implantação.



Busca pela claridade – O momento em que os músicos buscavam em suas referências mentais, históricas e contextuais, elementos interessantes que juntos poderiam formar algo novo. No estudo, essas pessoas uniram ritmos distintos, ideias diferentes, etc…

Concepção – Nesse ponto, os músicos prosseguiam trabalhando para enxergar mais sentido na união desses elementos. Aqui, a imaginação era a maior aliada junto com referências existentes.

Desenvolvimento – Essa foi a etapa de validação da ideia. Aqui, o músico enxergava como seria possível colocar em prática o que pensou ao mesmo tempo em que buscava compreender se esta ideia poderia encontrar um campo de atuação em outros públicos.

Implantação – Por fim, o artista colocava a mão na massa e executava a ideia. Seja a música que estava na cabeça, a ideia que fazia casa nos pensamentos, não importa, o processo terminava com a materialização do pensamento através de uma atitude.

Após mapear essas etapas, Gerard fez testes em outros artistas, agora, mostrando a eles um plano ordenado a seguir sob esses pontos. A produção de novas ideias e projetos criativos aumentou em 65%, com 2x menos tempo.

Ficou provado que é possível doutrinar o cérebro a buscar novas alternativas, seguindo passos de estímulo. Você pode ver como Gerard demonstra a aprendizagem criativa em um vídeo bem interessante feito pela BBC, aqui.

Criatividade não se força

Se por um lado o processo criativo estimula a produção de novas ideias, é importante o músico entender que isto não é automático. Criatividade não se força. Um estudo feito pela Universidade de Londres mostrou que artistas tem muito mais dificuldades em conceber novas formas de arte e música quando estão sob stress. Logo, é preciso criar um ambiente que favoreça o processo criativo.

Criatividade = Perseverança

Embora possamos pensar que muitos músicos e outras figuras públicas foram ou são gênios criativos, é difícil realmente encontrar pessoas que podem ser criativas o tempo todo. Picasso, por exemplo, pintou por volta de 50.000 obras, mas apenas uma fração corresponde ao estado da sua arte. O mesmo pode ser dito para muitos grandes compositores: para cada hit, há uma probabilidade de haver dezenas ou mesmo centenas de canções que simplesmente não deram certo.

Aprender a ser mais criativo é aprender a viver uma vida com ousadia e muita vontade em deixar uma marca nesse mundo. Pessoas com esse espírito já inovam sendo quem são.

E exatamente por isso, já começaram maravilhosamente bem.

Sobre o autor

Vinicius Soares

Vinicius Soares é músico, compositor e empreendedor. Está à frente da Palco Digital, agência de consultoria para músicos independentes e realiza palestras pelo Brasil com foco em planejamento de carreira musical.

Ganhou o Prêmio Profissionais da Música, um dos maiores reconhecimentos da categoria e mantém uma comunidade online com mais de 50.000 músicos brasileiros e estrangeiros.

Uma de suas principais atividades é compartilhar conhecimento e experiência sobre geração de receita no mercado musical através das novas tecnologias, tema que já ajudou diretamente mais de 2.000 músicos e compositores através de seus treinamentos on line.

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